O gnosticismo é um conjunto de correntes filosófico-religiosas que surgiram no Mediterrâneo durante os séculos I e II d.C., influenciado por interpretações de relatos bíblicos e apócrifos, bem como por cultos de mistérios greco-romanos e orientais. Essa corrente surgiu em conjunto com o cristianismo primitivo, mas foi considerada heresia pelos intelectuais cristãos após um período de prestígio. Os gnósticos acreditam que o universo material foi criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo, chamada demiurgo, com o objetivo de aprisionar a centelha divina no corpo humano. A libertação dessa centelha divina só pode ser alcançada por meio do conhecimento intuitivo, chamado de gnose. O gnosticismo teve seu auge no século II, mas sobreviveu ao longo dos séculos e ressurgiu durante o Renascimento e a espiritualidade moderna.
A história do gnosticismo é fascinante, repleta de mistérios e profundas crenças sobre a natureza do universo e a busca da verdadeira salvação. Neste artigo, vamos explorar a origem e o desenvolvimento do gnosticismo, as principais crenças e conceitos gnósticos, o dualismo e monismo presentes nessa corrente de pensamento, o termo “gnosticismo” e sua história, além de uma conclusão sobre a importância e influência do gnosticismo ao longo dos séculos.
Origem e desenvolvimento do Gnosticismo
As primeiras formas de gnosticismo surgiram no século II d.C., no contexto do mundo mediterrâneo, em interação com os primeiros movimentos cristãos e filosóficos. Sua influência se estendeu até a China, através do maniqueísmo, e o mandeísmo ainda sobrevive no Iraque.
O estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo foi reaceso com a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945. O termo “gnosticismo” não é encontrado em fontes antigas e foi cunhado por Henry More no século XVII.
“Gnosticismo é uma palavra fossílizada, cunhada por seus críticos e usada com visões negativas”, diz o especialista Aaron Johnson. “No entanto, esse termo é útil para nos referimos a uma ampla gama de movimentos filosófico-religiosos que surgiram no período Antes desta era, que compartilhavam algumas características comuns, mas também apresentavam diferenças significativas.”
A definição e o entendimento do gnosticismo são complexos, pois existem várias vertentes e exceções dentro dessa corrente de pensamento. O gnosticismo foi considerado heresia pela Igreja no Concílio de Nicéia e muitos dos textos gnósticos foram destruídos ou perdidos ao longo dos séculos.
Desenvolvimento do Gnosticismo
O gnosticismo emergiu como um fenômeno complexo que se desenvolveu em resposta ao contexto histórico, cultural e intelectual do mundo mediterrâneo nos séculos I e II d.C. A interação do gnosticismo com o cristianismo primitivo e outros movimentos filosóficos da época levou ao surgimento de diversas escolas e tradições gnósticas.
Essas tradições se expandiram para além das fronteiras do Mediterrâneo, influenciando movimentos como o maniqueísmo na China e o mandeísmo no Iraque. Embora tenham sido consideradas heréticas pela Igreja, algumas formas de gnosticismo sobreviveram e continuaram a influenciar a espiritualidade humana.
Período | Principais Desenvolvimentos |
---|---|
Séculos I e II d.C. | – Surgimento das primeiras formas de gnosticismo no Mediterrâneo – Interação com o cristianismo primitivo e filosofias da época |
Séculos III a V d.C. | – Crescimento e consolidação de várias escolas e tradições gnósticas – Influência do maniqueísmo na China – Sobrevivência do mandeísmo no Iraque |
Século XVII | – Cunhagem do termo “gnosticismo” por Henry More |
Séculos XX e XXI | – Redescoberta e estudo do gnosticismo e do cristianismo primitivo com a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945 – Ampliação do entendimento do gnosticismo através de análises acadêmicas e pesquisas |
Essa rica e variada história do gnosticismo mostra como essa corrente de pensamento continuou a se desenvolver e a influenciar diferentes culturas e épocas, mesmo sendo marginalizada e considerada herética no contexto cristão.
Principais crenças e conceitos gnósticos
O gnosticismo é uma corrente filosófico-religiosa complexa que se desenvolveu ao longo dos séculos. Embora não possua um sistema único e uniforme, existem características gerais presentes em várias vertentes do gnosticismo.
Os gnósticos acreditam que o mundo material é uma criação imperfeita e maligna. Segundo suas crenças, isso ocorreu devido à ação de um deus inferior ou falso conhecido como demiurgo. Dessa forma, eles veem Jesus como um messias enviado pelo Deus supremo com o objetivo de trazer a gnose, o conhecimento necessário para a libertação da centelha divina aprisionada nos seres humanos.
No gnosticismo, a salvação não é baseada no conceito de pecado, mas sim de ignorância. Acreditam que o conhecimento é a chave para alcançar a verdadeira libertação. Portanto, o objetivo do gnosticismo é obter o conhecimento especial e íntimo dos segredos do universo para alcançar a libertação da centelha divina.
“Conhecimento é poder, e o gnosticismo busca capacitar o indivíduo para encontrar a verdade e alcançar a salvação.”
É importante ressaltar que as crenças e conceitos gnósticos podem variar entre as diferentes vertentes do gnosticismo. No entanto, o objetivo fundamental de atingir a libertação através do conhecimento especial e a visão do mundo material como uma criação imperfeita são características comuns a muitas dessas vertentes.
Crenças gnósticas principais
- Acreditar que o mundo material é uma criação imperfeita e maligna do demiurgo.
- Ver Jesus como o messias enviado pelo Deus supremo para trazer a gnose e libertação.
- Buscar a libertação da centelha divina por meio do conhecimento especial dos segredos do universo.
- Enxergar a salvação como um processo de alcançar a verdadeira libertação através do conhecimento, em vez de baseada no pecado.
O gnosticismo, com suas crenças e conceitos peculiares, continua a ser objeto de estudo e reflexão, inspirando muitas pessoas na busca pelo conhecimento e pela compreensão do mundo.
Principais crenças gnósticas: | Explicações |
---|---|
A criação material é imperfeita e maligna | O demiurgo, um deus inferior ou falso, é responsável por essa criação |
Jesus como messias e portador da gnose | Ele é enviado pelo Deus supremo para trazer o conhecimento necessário para a libertação |
O objetivo do gnosticismo | Alcançar a libertação da centelha divina através do conhecimento especial e íntimo dos segredos do universo |
A salvação gnóstica | Baseada na ignorância e na busca pelo conhecimento, não no conceito de pecado |
Dualismo e monismo no Gnosticismo
O gnosticismo é frequentemente descrito como tendo uma natureza dualista, ou seja, acreditando em duas entidades fundamentais. O dualismo radical postula a existência de duas forças divinas coiguais, como no caso do maniqueísmo, que concebe dois reinos coexistentes de luz e escuridão em conflito.
Já o monismo qualificado discute se a segunda entidade é divina ou semi-divina. Os gnósticos percebem a criação material como resultado de um “erro” ou ilusão do demiurgo, uma emanação imperfeita do Deus supremo.
Algumas vertentes do gnosticismo podem ter uma compreensão monista, em que a materialidade é vista como uma consequência do desconhecimento e da percepção equivocada, uma forma de erro.
O gnosticismo é um sistema de crenças complexo e as visões sobre dualismo e monismo podem variar entre as diferentes vertentes.
O termo “gnosticismo” e sua história
O termo “gnosticismo” não é encontrado em fontes antigas e foi cunhado por Henry More no século XVII para descrever a heresia tiatirense mencionada no Apocalipse. O uso do termo por Henry More e pelo Bispo Ireneu de Lião no tratado “Contra as Heresias” marca algumas das primeiras definições do gnosticismo no contexto da Era cristã.
No entanto, o termo gnostikós, no sentido de “aquele que sabe” ou “que entende”, já era utilizado na Grécia clássica. Durante o período helenístico, o termo “gnostikós” passou a ser associado aos cultos de mistérios greco-romanos.
A aplicação do termo “gnosticismo” como uma categoria genérica é problemática, pois o gnosticismo engloba diversas seitas e visões diferentes, e o termo tem sido aplicado de maneira ampla e ressignificado ao longo da história.
Conclusão
O gnosticismo é uma corrente filosófico-religiosa complexa que surgiu no Mediterrâneo nos séculos I e II d.C. e teve influência no cristianismo primitivo e em outros movimentos filosóficos da época. Apesar de ter sido considerado heresia pela Igreja, o gnosticismo sobreviveu ao longo dos séculos e ressurgiu em diferentes momentos da história.
O gnosticismo se caracteriza pela crença em um universo material criado pelo demiurgo, uma entidade inferior, e na busca pela libertação da centelha divina aprisionada através do conhecimento intuitivo, chamado de gnose. Essa busca pelo conhecimento é considerada fundamental para alcançar a verdadeira salvação.
O estudo e entendimento do gnosticismo são complexos devido à diversidade de vertentes e interpretações existentes. O termo “gnosticismo” foi cunhado mais tarde e usado para descrever uma variedade de correntes filosófico-religiosas que surgiram no período anterior à era cristã, compartilhando certas características, mas apresentando diferenças significativas.
O gnosticismo deixou um legado misterioso e enigmático na história da espiritualidade e continua a ser objeto de estudo e debate até os dias de hoje. Sua influência pode ser vista em diversas correntes filosóficas e religiosas ao longo dos séculos, tornando-se uma parte importante do panorama religioso e espiritual da humanidade.
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